terça-feira, 8 de julho de 2014

VOLTAR A TREINAR É MAIS FÁCIL DO QUE COMEÇAR

Graças à memória fisiológica, quem tinha por hábito correr, mas foi obrigado a dar uma parada, sente mais facilidade do que os iniciantes no esporte

O tema não é novo.  Desde os anos 60, os textos clássicos sobre treinamento desportivo já falavam sobre uma QUALIDADE física que funcionaria como uma "memória fisiológica" e que permitiria ao organismo ganhar tempo durante o processo de treinamento, respondendo mais rapidamente à adaptação às cargas de trabalho e também no desenvolvimento técnico de uma modalidade ou de algum gesto esportivo específico. Essa qualidade seria consequência de antigos processos de treinamentos, que por qualquer motivo tivessem sido interrompidos, mesmo durante longos períodos. 
Mas como SABER o nível de sua memória fisiológica? Como ativá-la? Variar os tipos de exercícios, incluindo funcionais, educativos e musculação à planilha não só melhora o rendimento do corredor, mas também eleva o nível da memória fisiológica. Isso é importante porque todos estão sujeitos a uma parada nos treinos por conta de lesões ou mesmo motivos pessoais e profissionais, e na retomada dos treinos é exatamente esta memória fisiológica que vai fazer você voltar mais rapidamente à sua melhor forma. 
Doutor em Fisiologia do Exercício e mestre em Bases Biomédicas, Sérgio Moreira explica que a perda do condicionamento físico e técnico ocorre gradativamente, quando o atleta para de treinar. Dependendo do esporte e da qualidade física, esta perda é mais ou menos acentuada. "QUALIDADES físicas de base, como resistência muscular, força, potência aeróbia máxima e resistência anaeróbia são o alicerce para a condição física, embora diminuam com uma parada no treinamento, mantêm uma ‘memória', que permite, na volta aos treinos, uma retomada mais rápida do desenvolvimento em relação a uma pessoa que jamais tivesse treinado", explica Sérgio, graduado pela Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro, e também doutor em Ciências Aeroespaciais (AFA).

HABILIDADES ADQUIRIDAS. Sérgio explica que não se pode confundir memória muscular com memória fisiológica. Segundo ele o que chamam de memória muscular é um aspecto típico do músculo. Memória - ou lastro - fisiológica é algo mais amplo "porque abrange músculos e todo o aparato do organismo que contribui para o desempenho, como o sistema nervoso, coordenação muscular,VELOCIDADE, equilíbrio e uma série de variáveis. Ela resgata hábitos ou habilidades adquiridas pelo atleta ao longo do tempo para que ele dê conta de realizar algo no presente".
O professor Fabio Ganime, coordenador do curso de Educação Física do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR), também do Rio, lembra que os praticantes de atividades físicas tendem a retomar os treinos - mesmo depois de um longo período de interrupção - numa carga maior do que as do primeiro dia de treinamento de uma pessoa sem um histórico esportivo.
"Isso ocorre porque, mesmo nos casos de muito tempo longe dos exercícios, o organismo mantém a chamada ‘memória' armazenada. Além disso, existe a questão relacionada à ativação do sistema nervoso, pois a ação repetida de um determinado exercício faz com que esse procedimento neuromuscular seja memorizado, melhorando assim a eficiência para a execução desse exercício."


RECUPERAÇÃO ESTIMULADA. Quanto mais estímulos motores o treinamento proporcionar ao corpo, melhor e mais rápida será a recuperação de condição física. Doutor em Saúde e mestre em Ciência da Motricidade Humana e Fisiologia do Exercício, o tenente da Marinha Michel Leonardo Lima explica que o lastro fisiológico aumenta com a variedade de exercícios no treinamento.
"Não há dúvidas de que o corredor, ou qualquer outro atleta, terá um lastro maior se, além dos treinos de corrida propriamente ditos, incluir em sua planilha séries de musculação, de exercícios proprioceptivos e funcionais. O corredor deve pensar no seu condicionamento, mas como todos estão sujeitos a lesões, esta variedade de exercícios certamente vai ajudá-lo no caso de uma retomada de treinos", afirma o militar carioca.
Segundo o fisiologista Sérgio Moreira, que atualmente integra a Equipe Filé/Márcia Narloch, a memória fisiológica é usada por todas as pessoas em praticamente todos os momentos da vida, consciente ou inconscientemente. Ocorre que nos atletas o organismo, como um todo, deve se adaptar às novas condições. E, mesmo com a interrupção das atividades, estas condições ficam, pelo menos em parte, armazenadas.
"O condicionamento físico e a técnica de execução dos exercícios tendem a deteriorarem-se quando se deixa de praticar. Mas é sempre mais fácil recuperar o condicionamento e resgatar a técnica do que aprender a realizá-los pela primeira vez", afirma Sérgio.

COMO AVALIAR. Não é possível saber o nível de memória muscular ou fisiológica de uma forma direta, mas pode-se deduzi-lo através de exames de força muscular e avaliações físicas, que levam em conta algumas variáveis. De acordo com o professor Fábio Ganime, estas avaliações também apontam o atual estágio de condição física do atleta.
"Muitas variáveis influenciam a perda e a retomada do condicionamento, como também a memória muscular e fisiológica. Elas estão relacionadas a fatores genéticos e ao meio. O corpo sofre alterações através do treinamento a que é submetido. Adaptações muscular, neural, bioquímica e cardiorrespiratória, entre outras, são causadas pelo estresse do treinamento. À medida que o estresse cessa, os sistemas tendem a retornar aos níveis iniciais", explica Ganime.

Fonte: http://www.contrarelogio.com.br/materia/o-indice-glicemico-e-a-atividade-fisica/

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